O CASAMENTO DE DONA GROSELHA

 

Num bosque de árvores replantadas lá nas montanhas Gerais vivia a Dona Groselha. Ela era uma mulher não muito alta e nem muito baixa, poderíamos dizer que se tratava de uma “mulher arbusto”.

A família de Dona Groselha era das Ribes e teria vindo dos Alpes europeus, o que a enchia de orgulho. Conta-se que ela também tinha primas distantes na Índia e no Himalaia.

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Groselha com frutos vermelhos

Dona Groselha era um doce de mulher, era doidinha para se casar, mas de tão doce ninguém suportava ela muito tempo. Isto entristecia nossa amiga.

Num dia de outono lá veio o fazendeiro: aproxima-se de Dona Groselha, segura em seus ramos como se segurasse nos braços de uma mulher, mas a delicadeza com ela contrastava da triste notícia que ele lhe diria a seguir.

“Você é um arbusto seco e espinhento que ainda nada produziu em minhas terras. O certo é que estou precisando ampliar meus cultivos e em breve arrancarei você e a todas de sua espécie, pois nada me renderam até agora.” – Decretou o fazendeiro.

Aquela sentença magoou Dona Groselha. De fato, ela ainda nada tinha produzido e rendido ao fazendeiro, mas arrancá-la lhe pareceu muito cruel. Ela e as demais de sua espécie se puseram a pensar o que poderiam fazer para que toda sua doçura chegasse ao conhecimento e principalmente aos bolsos do fazendeiro, mas os dias passavam e nada de uma ideia salvadora.

Foi então que, numa noite escura de lua minguante, Dona Groselha não resistiu a tristeza e se colocou a chorar, seu choro iniciou brando mas aos poucos tornou-se caudaloso como um rio. Junto do choro vinham os soluços que podiam ser ouvidos a quilômetros.

Ao amanhecer podia se observar que todo aquele choro, que escorreu pelas folhas e ramos de Dona Groselha deu origem a frutos esverdeados.

Naquele dia o fazendeiro acordou ainda mais cedo que o normal, pois sonhara que alguém havia chorado a noite toda. Ele tomou café com broa e seguiu para o campo em mais um dia de sua rotina matutina de trabalho. Quando avistou Dona Groselha, ainda de longe, ficou surpreso com o que via. De onde vieram aqueles frutos? – Perguntava a si mesmo.

Chegando mais perto passou sua mão naquele arbusto onde antes ele só via espinhos e agora um lindo fruto brotara.

Com o passar dos dias mais e mais choro se ouvia em todo pomar, vinha da família de Dona Groselha, afinal elas entenderam que poderiam sim, mesmo em condições climáticas adversas, produzir algum fruto e se manter vivas.

O espanto do fazendeiro foi dando lugar a certa curiosidade e até alguma animação. Será que estes frutos seriam como café? Seriam amargos? Doces? Qual o sabor e pra que serviriam?  – Perguntas borbulhavam em sua mente.

Os frutos se desenvolviam e o fazendeiro resolveu que já era hora de colher os primeiros, pois estariam no ponto. Estes vinham justamente da Dona Groselha.

Ele os colheu e levou até Dona Maricota, sua esposa. A esposa do fazendeiro era uma doceira que fazia delícias, ela então resolveu experimentar os frutos de Dona Groselha num xarope. Ao ingeri-lo, percebeu como era muito doce, forte e consistente.

Na manhã seguinte o fazendeiro pegou uma garrafa daquele xarope e levou pra o campo. De vez em quando tomava em pequenas colheres, pois achava de um doce quase insuportável. Já ia pensando que tal fruto de nada iria servir, nem para xarope.

Ao ordenhar uma das suas vacas, ele deixou a garrafa destampada em cima do banco. Ao mover seu corpo, o banco balançou e derrubou a garrafa. Uma parte do xarope escorreu dentro do balde de leite.

Aquele descuido fez que o leite adquirisse um tom cor de rosa e não lhe pareceu num primeiro momento nada apetitoso. Ele pensou que ninguém haveria de querer comprar aquele leite estranho. Resolveu que ia levar aquele balde para ser aproveitado pela sua família.

Quando seus filhos saborearam o leite cor de rosa não gostaram, na verdade adoraram. Para o espanto do fazendeiro Dona Maricota também aprovou e depois ele mesmo apreciou o novo leite com o xarope da Dona Groselha.

Depois daquele dia o fazendeiro passou a tratar Dona Groselha e os demais arbustos de sua família como algo nobre, pois em muito ampliaram a sua renda.

Agora, finalmente Dona Groselha estava satisfeita, feliz da vida por ser apreciada por muita gente, agora ela nem se importava mais com o casamento e ainda assim encontrou uma bela combinação onde a sua doçura valorizava a nobreza do leite.

PS.: Texto foi enviado ao site cultural Escambau e publicado no dia 02/07/2018

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